terça-feira, 16 de dezembro de 2008

WALL-E²





Na minha lista pessoal de filmes favoritos, não incluí nenhuma animação. Depois que a nova produção da Pixar Wall-E (EUA, 2008) terminou, percebi que precisava repensar essa lista. Não é mais surpresa pra ninguém a qualidade inquestionável dos longas da produtora, inclusive Ratatouille ano passado foi um dos melhores filmes do meu top 10, porém, quando menos esperávamos (ou quando mais) eis que surge Wall-E e amplia ainda mais essa inquestionável qualidade. Num mundo aonde não existe mais vida, aonde a terra não passa de um grande depósito de lixo, um robozinho tem a fácil tarefa de empilhar esse lixo que os seres humanos deixaram para trás, uma vez que viajaram numa nave espacial, uma espécie de cruzeiro de luxo pra que todos passem seus dias enquanto a terra está sendo limpa. O robozinho se chama Wall-E e tem como animal de estimação uma barata, com a qual vive num lugar repleto de coisas banais para os seres humanos, lixo mesmo, enquanto que pra ele tudo tem um certo valor, uma certa importância. Daí surge Eva, uma robô super avançada que é enviada a Terra numa missão especial. É a partir daí que o filme ganha todo o seu brilhantismo. As cenas de Wall-E tentando fazer contato com Eva, mostrando um sentimento que ele não foi programado pra sentir são de encher os olhos, graças a impecável produção de animação, e a trilha de Thomas Newman que comento mais a seguir. Na verdade, esse relacionamento é a "estrutura óssea" do filme, enquanto que a "carnadura" vem na forma de crítica a nossa sociedade que caminha num rumo contrário a evolução, onde comprar é o que importa, e o mínimo de esforço deve ser feito, as máquinas foram criadas para fazer tudo por nós. No roteiro, os seres humanos são sedentários e não fazem nada, tendo a máquina pra fazer tudo por eles, enquanto que encontramos características humanas, como amor, lealdade, amizade, determinação, nos robôs que não foram programados pra isso. Essa é a grande sacada, mostrar que nossa sociedade perdeu essas qualidades essenciais de convivio humano. É por isso quem Wall-E já pode ser considerado um clássico, ainda mais quando percebemos no filme claras referências a forma de fazer cinema, a magia da sétima arte, principalmente pelo robozinho se inspirar num musical pra saber como se portar perante sua amada, e a linda La Vi Em Rose, na voz de Louis Amstrong dando um tom especial nas cenas de relacionamento. Os créditos dessa idéia ficam por conta do compositor Thomas Newman, que criou uma trilha brilhante e inesquecível, que harmoniza de uma forma incrível em cada cena da animação. Sempre fui admirador do trabalho de Newman, principalmente sua trilhas de Beleza Americana e Estrada Para Perdição (curiosamente ambos do diretor Sam Mendes), mas aqui ele alcança seu ápice artístico. Junto com o grande roteiro, é o maior destaque do filme. Friso também o "vilão" do filme, um robô que controla os seres humanos, clara referência ao filme 2001-Uma Odisséia no Espaço, tanto que a própria trilha do filme foi usada pra representar esse robô do mal. Destaco ainda o trabalho de edição de som e mixagem do filme, que exploram todos os elementos de construção, desde os entulhos sendo esmagados quando o robozinho passa a movimentação da baratinha, tudo muito bem enquadrado. No fim, junto com a canção de Peter Gabriel, fica a clara mensagem de que nós precisamos cuidar do ambiente em que vivemos, ele depende de nós. É por essas e outras que Wall-E é um dos melhores filmes que já vi, e estou na torcida organizada para sua indicação ao Oscar de Melhor Filme.

Por: Ícaro Carvalho

Nota: 9,5

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